Exposição individual "Viagens não têm títulos", do artista Adones Valença
Nesta quarta-feira (01/11), o Sesc Ler Belo Jardim promove um vernissage da Exposição “Viagens não têm títulos” do artista belojardinense Adones Valença. As obras podem ser conferidas na Galeria de Artes da Unidade a partir das 19h30 com acesso gratuito. A mostra, que tem classificação livre, ficará em cartaz até o dia 28 de fevereiro de 2018.
A exposição é fruto das experiências vividas pelo artista ao longo de uma jornada pelo sertão de cinco estados brasileiros do Nordeste. Este trabalho de Adones Valença também rendeu um livro com o mesmo título publicado este ano. Resultado da pesquisa homônima contemplada pelo projeto Rumos Itaú Cultural 2015-2016, “Viagens não têm título” toma como partida poética o deslocamento do corpo e propõe, no encontro com o outro, a prática de uma educação sensível.
O artista viajou pelo sertão com uma mala contendo desenhos, escultura, pintura, poemas e objetos. Criado com referência direta nas caixas e maletas portáteis de Marcel Duchamp, o objeto é composto de uma série de mecanismos que possibilita sua montagem e desmontagem em diferentes espaços.
A visitação vai até o dia 28 de fevereiro, sempre das 9h às 13h e das 14h às 18h, no Sesc Ler Belo Jardim.
Riscos de uma viagem sem título
Mais uma vez a “caixa-valise” é aberta. Não só aberta, mas ampliada em sua
escala, transmutada no persistente cenário arquitetônico da arte. O gesto
mínimo empregado na montagem e manipulação do “museu portátil” de
Adones Valença, lição cuidadosamente assimilada em Rrose Sşlavy –
heterônimo feminino do artista Marcel Duchamp – converte-se em um ávido
jogo de materialização.
Ora, o artista não seria “alguém que transforma coisas em outras coisas”, como bem pontua o artista ao planejar sua viagem iniciática? Nessa atitude, o artista- viajante passa a ser artista-alquimista. Age tal qual os precursores do espírito cientifico moderno, que procediam sobre repetição à procura de um evento químico surgido da manipulação experimental e purificação da matéria.
No lugar de misturar, aquecer, evaporar e reclinar incontáveis vezes um mesmo sólido, o artista opera artesanalmente sobre os elementos simbólicos coletados na viagem na busca pelo que marca como um “funcionamento”. Mais uma vez, inquire pela prática de uma “educação sensível”, uma espécie de “pedra filosofal”.
Para tal, apresenta obras que prezam pela experiência diluída e conjunta; cria ambientações inteiras que convida o público a um repouso contemplativo integrando-o a um ecossistema formado por abertas (e inconclusas) investidas. Miniaturiza o público, dando-lhe o “sopro da vida”, tornando-o elemento primordial dentro dessa então grande mala.
Ora, o artista não seria “alguém que transforma coisas em outras coisas”, como bem pontua o artista ao planejar sua viagem iniciática? Nessa atitude, o artista- viajante passa a ser artista-alquimista. Age tal qual os precursores do espírito cientifico moderno, que procediam sobre repetição à procura de um evento químico surgido da manipulação experimental e purificação da matéria.
No lugar de misturar, aquecer, evaporar e reclinar incontáveis vezes um mesmo sólido, o artista opera artesanalmente sobre os elementos simbólicos coletados na viagem na busca pelo que marca como um “funcionamento”. Mais uma vez, inquire pela prática de uma “educação sensível”, uma espécie de “pedra filosofal”.
Para tal, apresenta obras que prezam pela experiência diluída e conjunta; cria ambientações inteiras que convida o público a um repouso contemplativo integrando-o a um ecossistema formado por abertas (e inconclusas) investidas. Miniaturiza o público, dando-lhe o “sopro da vida”, tornando-o elemento primordial dentro dessa então grande mala.
A mostra Viagens não têm títulos se apresenta em constante projeto, formada
então por duas unidades complementares e interdependentes: o oratório, lugar
de elaboração teórico-sensitiva, em constante abertura de sentidos possíveis
que repousam em cada consciência aberta à leitura das obras, e o laboratório,
espaço da experimentação material expograficamente engendrado.
Nas instalações A grande árvore e Peixes ou no vídeo Ex-voto cênico, nada
está encerrado. Nada está estático. Tudo é ensaio e puro fenômeno. Nesse
sentido, a mostra encara, pois, riscos semelhantes ao da viagem. Ao nos
lançar nessa outra incursão, o artista nos delega tarefa próxima àquela que
conduziu sua viagem, a de abrirmo-nos muito mais a sensações do que a
instauração de interpretações definitivas. Tanto quanto a viagem, esta é uma
mostra de perguntas e possibilidade de encontros.
Bruna Rafaella Ferrer
Curadora da exposição Viagens não têm títulos
Livro "Viagens não têm títulos", do artista Adones Valença
O livro é o primeiro resultado da pesquisa homônima contemplada pelo projeto Rumos Itaú Cultural 2015-2016. Ele reúne alguns registros produzidos ao longo da jornada do artista pelo sertão de cinco estados brasileiros da região nordeste, com uma mala contendo desenhos, escultura, pintura, poemas e objetos. Trata-se do relato de um projeto artístico que toma como partido poético o deslocamento do corpo e propõe, no encontro com o Outro, a prática de uma “educação sensível”.
Do desenho grafado rapidamente no sketchbook à escrita epistolar de seu diário de bordo, o material apresentado no livro publicado pela editoria Inteligência Sensível desliza em variadas, mas nunca completas, narrativas de reinvenção de um modo de viver, e perceber, a vida do artista e das pessoas que habitam esses “lugares de esquecimento”.
O livro foi produzido entre junho e agosto de 2017, tem coordenação editorial pela artista visual Bruna Rafaella Ferrer e projeto gráfico pela artista e design Aurora Yett.
Uma viagem
interior
“Você não imagina que alguém possa morar
tão longe. Mas longe de que afinal?” Já na primeira crônica desenhada por
Adones Valença, no começo do trajeto do projeto Viagens não têm títulos, convém notar que sua intenção é
ultrapassar a ideia de promover o contato do público com o objeto de arte. Num
projeto que toma como partido o deslocamento do corpo como poética, é do
encontro com o Outro que emerge a experiência estética e que se constitui um
lugar absolutamente diferente, um espaço utópico efetivamente realizado.
Como desculpa, valeu-se de uma mala
(livro-objeto-galeria de arte) aberta ao sabor dos encontros, de passagem nos
povoados sertanejos “sorteados” pela potência poética de seus nomes. Partindo
de uma intenção de encontro, o dispositivo para conversa é gerado quando carrega
de signos toda sorte de elementos que compõem sua aventura. Mas, mesmo produzindo
objetos e situações carregados de signos, o artista constitui sua obra de arte,
efetivamente, quando promove um estudo. E seu esboço requer menos um
treinamento linguístico e mais um exercício de si.
No devir dessa experiência, observa que o
tempo passa mais devagar nas cidades visitadas e sustenta o elogio a um outro
modo de uso do tempo. Atento ao comportamento e à produção dos homens e
mulheres que “atende” nessa região, acaba por pontuar que não só estamos
condenados a uma sociedade em que trabalho e tempo ainda são os principais
produtores de valor, mas também que há muito a se considerar nas relações entre
as pessoas que vivem nessas paisagens interiores e o que se convencionou chamar
de modernidade.
Esta publicação reúne alguns registros produzidos ao
longo de uma jornada particular que versa sobre a arte do embate não
beligerante, a prática de uma “educação sensível”. São excertos das diversas
inscrições produzidas pelo artista que, muitas vezes, extrapola a lógica do
pensamento visual. Do desenho grafado rapidamente no sketchbook à escrita epistolar de seu diário de bordo, o material
aqui apresentado desliza em variadas, mas nunca completas, narrativas de
reinvenção de um modo de viver; no caso, viver a vida de artista
Bruna Rafaella Ferrer
Recife, julho de 2017
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Exposição individual "Brejo Tropical", da artista Simone Mendes
Na mostra Brejo Tropical a artista Simone Mendes nos convida a penetrar num ambiente que é muito mais seu dia-a-dia na casa-atelier do que os objetos que o compõem. Mas essa vivência extrapola àquela entre as quatro paredes de sua residência artística quando toma o desafio de fazer sentir desde o lado de fora, da calçada e da vitrine.
Como expansão das já conhecidas aquarelas, a artista nos mostra de primeira mão, a alçada para outros voos inventivos com o uso de carimbos sobre tecido e papeis recortados articulados numa geometria lírica floral.
Seja na composição de cenários, na escrita desenhada ou nas aquarelas, do lado de fora ou no interior do Brejo, somos mais que observadores, somos integrantes desbravadores de um mutante universo tropical a ser continuamente expandido e desvendado.
Exposição Brejo Tropical
Artista Simone Mendes
Curadoria de Bruna Rafaella Ferrer
Refazenda | Aflitos
Rua Teles Junior, 489, Recife
Abertura 10/11/2016, 19h
Visitação 11/11/2016 a 12/12/2016
Seg a Sex 09h às 20h
Sáb 09h às 18h
Como expansão das já conhecidas aquarelas, a artista nos mostra de primeira mão, a alçada para outros voos inventivos com o uso de carimbos sobre tecido e papeis recortados articulados numa geometria lírica floral.
Seja na composição de cenários, na escrita desenhada ou nas aquarelas, do lado de fora ou no interior do Brejo, somos mais que observadores, somos integrantes desbravadores de um mutante universo tropical a ser continuamente expandido e desvendado.
Exposição Brejo Tropical
Artista Simone Mendes
Curadoria de Bruna Rafaella Ferrer
Refazenda | Aflitos
Rua Teles Junior, 489, Recife
Abertura 10/11/2016, 19h
Visitação 11/11/2016 a 12/12/2016
Seg a Sex 09h às 20h
Sáb 09h às 18h
Ao compartilhar parte de seu
cotidiano criativo, a “pintora de sentimentos” Simone Mendes nos leva em Brejo
Tropical a perceber e
compor um cenário bastante particular, engendrado pelas suas mais recentes
investidas plásticas. Na mostra, a pintura-mato é espalhada no espaço,
transvaza suas já conhecidas aquarelas em várias
tecnologias; cultivo de outra narrativa artística e de Si.
Somos incitados a
adentrar nesse ecossistema cuidadosamente construído desde a vitrine, com
painel homônimo à mostra. Nesse desenho sem moldura, acompanhamos a
constituição de um repertório que toma emprestado o último processo do artista
Henri Matisse. O desenhar diretamente na cor com recortes para este artista
representava a descoberta de um novo meio de expressão ao alcance de seu corpo
debilitado. Já em Simone, além de um diferente modo de fazer, é uma maneira de
semear plantas, que em sua veracidade de papel nos fazem lembrar que a arte
atual pode ser requalificada na função de criar ficções.
Desarmados de
certezas, e seguindo um labiríntico percurso floral, no Brejo somos convidados
a atravessar paisagens no lugar de apenas observar obras concluídas. Em um
generoso diálogo com a variável cenografia de uma loja de indumentária
feminina, na reprodução de espaços inteiros de sua casa-atelier, na presença de
aquarelas, estudos, estamparia, recortes, objetos pessoais e reproduções em
miniatura, da rua ao provador, Simone Mendes apresenta sua obra e seu meio em
constante projeto.
Nessa exposição
ensaística, tentativa de expansão do desenho e da pintura e treinamento de Si,
a artista apresenta, desde o branco da matéria crua de Folhas Naturais, o cotidiano plástico, engenhoso e multiforme de
sua Residência Artística. Como chave de leitura, podemos compreender um modo de
subjetivação centrado na ideia de um si que deveria ser criado como obra de
arte: uma ética que é uma estética da existência.
Bruna Rafaella Ferrer
Curadora da mostra
Brejo Tropical